Como viajar mudou a minha vida – Parte 1

Acredito que viajar para perto ou para longe – tanto faz  seja uma forma maravilhosa de se conhecer melhor. Nos colocamos à prova quando, por exemplo, nos deparamos sozinhos em um terminal de ônibus de madrugada sem saber para onde ir. Aceitamos nossos limites ao sermos convidados a provar um prato típico cujo aroma revira o estômago. Enfrentamos longas e árduas trilhas somente para descobrir o que tem do outro lado do morro.   E mais importante ainda: percebemos que o mundo é muito maior do que a realidade em que vivemos.

Solitute

Entre todas as minhas aventuras, uma se provou a mais marcante em relação à percepção de “como o mundo é grande e eu sou pequenininha”. Foi em 2014, enquanto viajava pelo Peru com a minha irmã. Decidimos fazer a trilha de dois dias para descer e subir o Canyon del Colca – o canyon mais profundo da América Latina! Ela, que vinha se preparando para correr uma maratona, tirou de letra. Eu, que não praticava esportes há alguns anos, achei que não ia conseguir terminar o percurso. Enquanto todos os grupos me passavam, me vi totalmente sozinha, sem fôlego e esperança alguma de terminar a trilha.

(Flickr | CC BY-NC-SA 2.0 | BORIS G)

(Flickr | CC BY-NC-SA 2.0 | BORIS G)

Foi ai que me dei conta: eu estava tão compenetrada no meu cansaço que não apreciei a vista! E não era uma vista qualquer… Eu estava meio a dois paredões de pedra, cercada por natureza, sob um céu azul limpinho, em pleno silêncio: o perfeito exemplo de solitude ou, em outras palavras, a glória de estar sozinho. O mundo me pareceu gigantesco naquele breve instante, em que parei tudo o que estava fazendo (inclusive de reclamar de dor no corpo) para simplesmente observar a paisagem curtindo a minha própria companhia. Depois dessa viagem, passei a atentar mais para o hábito ingrato de andar com pressa, sem olhar para os lados – e também parei de pegar no celular sempre que me via sozinha para observar os arredores e ver a vida acontecer!

Comunicação

Ainda nessa trilha, quando admiti que minhas pernas não me levariam até o topo do canyon de jeito nenhum, avistei uma pequena senhora. Ela parecia ter por volta de 70 anos, mas caminhava como se tivesse o físico de jovem. Curvada, carregava algo volumoso nas costas, embrulhado em uma manta típica. Fui até ela, com muita vergonha de falar espanhol errado, e perguntei fazendo largos gestos quanto faltava para terminar a subida. Não era muito, mas me recomendou a terminar a trilha o quanto antes, pois “o sol logo iria subir e seria mais difícil terminá-la”. Após o gentil conselho, seguiu seu rumo na direção oposta a minha calmamente.

(Flickr | CC BY-NC 2.0 | Chris)

(Flickr | CC BY-NC 2.0 | Chris)

Um pouco antes de tomar coragem para continuar a subir e já nervosa por conta do calor que se aproximava, apareceu um senhor montado em um jumento e puxando outro por uma cordinha. Vencendo a vergonha de uma vez por todas, arrisquei com meu espanhol arranhado: “quanto custa para subir até o fim da trilha na mula?”. Tinha visto algumas pessoas subindo dessa maneira, mas imaginei que fosse parte do pacote delas. Que nada! Negociamos e seguimos em frente, Sr. Thomaz e eu, montados nos dois jumentos. O aprendizado ficou registrado: “Quem língua tem, a Roma vai e vem” – ou, no meu caso, ao Canyon del Colca!

De volta a rotina

Há quem pense que não é preciso viajar para descobrir nossos limites e potenciais. No entanto, somente quando voltamos para rotina nos damos conta do real impacto de sair da rotina. É possível que eu tenha vivenciado momentos de solitude ou tenha exercido um esforço para me comunicar e sair de um aperto na esquina de casa, mas essas experiências ganham uma dimensão diferente quando estamos fora da nossa zona de conforto. Digo que viajar mudou minha vida porque senti na pele transformações muito positivas que levo de volta para casa, quando retorno a minha rotina. E como mencionei no começo, percebemos como o mundo é grande!

Ah! E enquanto o Sr. Thomaz me levava de mula até o topo do canyon, me contou sobre a senhorinha que havia passado por mim alguns instantes antes. Ela subia e descia o vale todos os dias! Depois disso, ao voltar para casa, comecei a me exercitar duas vezes por semana.

Esses exemplos são apenas dois dos diversos aprendizados que minhas viagens trouxeram. E você? Viajar mudou a sua vida? Compartilhe a sua história!

Escrito por . Cidadã do universo, jornalista e escritora, que ama qualquer tipo de viagem e comida. É criadora de Conteúdo no WePlann.

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