Chicago: o melhor da Broadway em produção minimalista
Todo bom fã de teatro musical que ouve a palavra “Chicago” sequer pensa na cidade americana de Illinois antes de ter a mente ocupada pela letra da música “All That Jazz”, o glamour da Broadway e Nova York.
“Come on babe, why don’t we paint the town…
And all that jazz!”
Esse clássico dos palcos está em cartaz há 22 anos! Isso faz dele o revival que ficou na Broadway por mais tempo, além de ser o segundo show a ficar em cartaz por mais tempo na história da Broadway, apenas atrás de O Fantasma da Ópera. Foi vencedor de seis Tony Awards em 1997, um Grammy, e ganhou até versão cinematográfica em 2002, com estrelas como Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones e Richard Gere. Sim, o musical veio bem antes do filme!
A história por trás do musical
O cenário é a cidade de Chicago no início da década de 1920, na era do jazz, quando o papel das mulheres começava a mudar na sociedade. O musical é baseado na peça homônima escrita por Maurine Dallas Watkins, que era a repórter encarregada de cobrir o julgamento de duas mulheres acusadas de assassinato, Beulah Annan e Belva Gaertner, em 1924 para o Chicago Tribune, o maior jornal da cidade.
Além desses, muitos outros casos de homicídios cometidos por mulheres vieram à tona naquela década, sendo que na maioria dos casos, elas haviam matado seus amantes ou maridos. A imprensa e o público ficaram fissurados com o assunto. Algo ainda mais intrigante era que a maioria das mulheres era absolvida pelo júri, composto apenas por homens. O rumor da época era que mulheres bonitas não eram condenadas – e a condenação da época era morte por enforcamento.
As estrelas de Chicago: Roxie Hart, Velma Kelly e Billy Flynn
Os personagens principais de Chicago são baseados em pessoas reais. Roxie Hart foi inspirada em Beulah Annan, uma jovem casada, acusada de matar seu amante no quarto da sua casa. Velma Kelly, por sua vez, foi inspirada em Belva Gaertner, uma cantora de cabaré também acusada de assassinar seu amante, que foi encontrado morto no banco da frente do carro de Belva com uma pistola ao chão do carro. Tanto Beulah quanto Belva foram absolvidas no mesmo ano. Seus advogados, William Scott Stewart e W. W. O’Brien serviram como inspiração para o personagem Billy Flynn, o advogado de Roxie e Velma na peça.
No musical, Roxie Hart é a esposa de um mecânico que aspira à fama. Ao ser detida pelo assassinato de Fred Casely, ela vê a oportunidade de usar sua prisão para conseguir o reconhecimento do público com a ajuda de Billy. Velma, que já estava na prisão quanto Roxie chega, se vê ameaçada pela recém-chegada, que começa a roubar seus holofotes na imprensa.
As características do musical
1. Minimalismo
Chicago tem uma característica muito diferente de outros musicais, e que eu acho maravilhosa. Ao invés de ficar em frente e abaixo do palco, invisível para a maioria do público, a orquestra fica no próprio palco, sendo que a regente (uma mulher!) participa da peça.
A orquestra ocupa grande parte do palco, então o cenário não tem nenhum elemento que não possa ser alterado pelos próprios atores e dançarinos, como as cadeiras usadas na música “Cell Block Tango”. Em questão de utilização de espaço, a produção foi impecável, inclusive com cenas pouco convencionais, nas quais personagens sobem escadas nas laterais do palco ou passam pelo meio da orquestra.
Os figurinos também são minimalistas. Todos os personagens usam roupas pretas, e as presas estão sempre com suas roupas íntimas, uma referência à forma como os presos entram na cadeia (já que todos os seus pertences e roupas são retidos).
2. Coreografias memoráveis
Talvez você ache que o minimalismo não é algo positivo, mas é a melhor forma de colocar o foco no que realmente importa em Chicago: dança e música. O músico John Kander e o letrista Fred Ebb decidiram fazer um musical a partir da história original e criaram cada número no tradicional estilo vaudeville, gênero de entretenimento de variedades. Eles escolheram esse estilo porque as personagens eram artistas, o que fez com que as coreografias sejam até hoje referência do teatro musical.
Como mostra esse curto vídeo no qual artistas e produtores falam um pouco sobre o espetáculo, “É o deslumbre do show business. Sem filtros, sem artifícios, sem mordaças, é performance pura ali mesmo na sua cara”:
3. Sensualidade
Talvez sejam as danças envolventes. Talvez, o minimalismo dos figurinos, principalemente com reação aos tamanhos. Talvez os dois, já que as roupas permitem que vejamos os corpos dos artistas executando cada movimento das coreografias com perfeição. O musical tem uma vibe de sensualidade, que orna perfeitamente com o mundo dos crimes, danças de cabaré e jazz dos anos 20.
4. Comicamente crítico
Chicago é cheio de sagacidade. A história mostra como a imprensa é facilmente manipulável e como o sistema judiciário é fortemente influenciado pela mentalidade da época. Mostra o poder da mídia em levar um desconhecido ao topo em questão de dias, direcionando a opinião pública como convém e criando uma “celebridade criminal“. Além disso, mostra algo que até hoje vemos muito, como não há nada que um bom advogado não possa fazer pelo seu cliente.
Para quem o show é recomendado?
Por ser um show recheado de sensualidade e criminalidade, digamos que não é exatamente um espetáculo adequado para o público infantil. É, no entanto, um espetáculo sem igual para o público adulto. Chicago é Broadway em sua essência, com a temática da busca pela fama e o glamour do show business. Nenhum espetáculo fica na Broadway por tanto tempo sem ser um sucesso absoluto. Então, se você tem idade apropriada para assistir ao show, vale a pena!
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Já assistiu ao show? Ficou com vontade? Deixe seus comentários abaixo!
Escrito por Natália Grandi, jornalista e tradutora que ama conhecer novas culturas e viajar, seja com os livros ou com a mochila nas costas. É criadora de Conteúdo no WePlann.